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Efeitos do Exercício Físico no Remodelamento Cardíaco

Grande parte das questões relacionadas com a evolução e prognóstico da doença cardíaca dependem do entendimento do conceito de remodelamento cardíaco.

Explicitando, o coração apresenta alta plasticidade, ou seja, remodela-se em resposta a diferentes estímulos a ele impostos. Dependendo da intensidade e da continuidade deste estímulo, serão geradas diferentes adaptações, sendo que a principal é uma resposta hipertrófica (aumento da massa muscular), que conduz a mudanças no fenótipo cardíaco. Essa alteração fenotípica é dependente da natureza do estímulo, podendo gerar uma hipertrofia cardíaca fisiológica ou patológica.

Neste último caso, estímulos como hipertensão, inflamação do músculo cardíaco (miocardite) e enfarte do miocárdio podem gerar uma alteração significativa na geometria cardíaca, na tentativa de reverter o quadro de disfunção contráctil do miocárdio e, por fim, restabelecer o débito cardíaco. Esse processo toma a designação de remodelamento cardíaco e caracteriza-se pela já referida hipertrofia. Entretanto, devido à hiperativação crónica de sistemas neuro-humorais (sistema renina-angiotensina-aldosterona e sistema nervoso simpático), bem como ao aumento da tensão na parede cardíaca, o grau de hipertrofia excede os valores fisiológicos.

Esse quadro precipita ou agrava a disfunção cardíaca, tratando-se de um remodelamento cardíaco patológico, no qual a hipertrofia é exacerbada, irregular e disfuncional. Em suma, trata-se do caminho para a insuficiência cardíaca.

Neste caso, se sofre de hipertensão arterial, se experienciou um enfarte do miocárdio, ou até mesmo se já lhe foi diagnosticado insuficiência cardíaca, a questão que deve colocar é a seguinte: “O que fazer para prevenir a instalação ou evitar a progressão de um processo de remodelamento cardíaco patológico?

A resposta a esta questão está relacionada com a expressão “Coração de Atleta”. Esta tem sido amplamente empregue na literatura para caraterizar as adaptações que ocorrem no sistema cardiovascular decorrentes do exercício físico de longa duração.

No coração de atleta, dois tipos de sobrecarga conduzem à hipertrofia cardíaca fisiológica de formas diferentes, porém configuradas de modo simétrico no coração:

No coração de atleta, dois tipos de sobrecarga conduzem à hipertrofia cardíaca fisiológica de formas diferentes, porém configuradas de modo simétrico no coração:

1.

No treino de força, onde a resistência atua em oposição às contrações musculares, é possível assistir a uma ligeira elevação do débito cardíaco, resultante de aumento da frequência cardíaca e maior elevação da pressão arterial, levando à sobrecarga de pressão no coração, que resulta em hipertrofia ventricular concêntrica (acúmulo de sarcómeros em série), isto é, aumento da espessura da parede cardíaca com manutenção dos diâmetros internos das cavidades cardíacas.

2.

No treino aeróbio, em que uma grande quantidade de grupos musculares é trabalhada de forma dinâmica, rítmica e duradoura, os principais padrões hemodinâmicos são o aumento da frequência cardíaca e do volume sistólico, os dois componentes do débito cardíaco. Portanto, a sobrecarga sobre o coração é predominantemente volumétrica, levando a desenvolvimento de hipertrofia ventricular excêntrica (acúmulo de sarcómeros em paralelo), isto é, aumento proporcional da massa cardíaca e do volume da cavidade ventricular.

Conclusão

A hipertrofia fisiológica que resulta do exercício físico é uma combinação de diferentes graus de ambas (concêntrica + excêntrica). Denominadas em conjunto de remodelamento cardíaco fisiológico, essas alterações são caraterizadas pelo aumento harmonioso do músculo cardíaco, otimizando a sua função e força de contração.

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