Skip to content

Exercício Físico e Proteção Cardiovascular – Evidência Científica

Evidência Científica

A prática de exercício físico regular pertence a um conjunto de componentes do estilo de vida saudável, que incluem: alimentação adequada, redução do sobrepeso, não fumar, etc. Importantes estudos clínicos de intervenção no estilo de vida demonstraram consistentemente que hábitos saudáveis reduzem o risco cardiovascular, isto é, podem prevenir ou retardar o desenvolvimento de doença ou evento cardíaco.


A redução do sedentarismo, por si, beneficia a saúde cardiovascular reduzindo a morbimortalidade. Numa retrospetiva histórica, um dos primeiros estudos epidemiológicos a verificar essa relação foi conduzido na década de 1950 por Morris e Rafle, que publicaram o artigo “Coronary Heart Disease in Transport Workers” na revista científica The Lancet. Os achados do mesmo permitiram concluir sobre a menor incidência de doença arterial coronária (enfarte do miocárdio) e mortalidade pós evento entre os cobradores dos famosos autocarros de 2 andares em Londres, que permaneciam grande parte do tempo em movimento e subindo escadas, quando comparados aos motoristas, que permaneciam a maior parte do tempo sentados.

Os resultados deste estudo agitaram o paradigma vigente, servindo de mote à posterior execução de vários outros, com vista a explorar a relação entre atividade física e saúde do coração.

Nesse sentido, uma relevante revisão sistemática de literatura sobre o tema foi publicada em 2009 no Journal of the American Medical Association. Investigadores Japoneses, Kodama et al, incluíram coletivamente 33 estudos, totalizando mais de 100.000 indivíduos. Os autores concluíram que a aptidão cardiorrespiratória estimada na prova de esforço (carga de trabalho em passadeira) foi um marcador prognóstico consistente em homens e mulheres aparentemente saudáveis. Cada aumento de 1 MET* na aptidão cardiorrespiratória refletia diminuição de 13% na mortalidade de todas as causas e diminuição de 15% em eventos cardiovasculares.

Naturalmente, a investigação científica procurou também estender a compreensão do impacto do exercício físico nos indivíduos já portadores de doença arterial coronária (DAC), mesmo após enfarte agudo do miocárdio (EAM) ou revascularização (Cateterismo cardíaco com angioplastia ou Cirurgia de Bypass Coronário).

O exercício físico mostrou benefícios para esse grupo de pessoas, inclusive em relação à evolução e prognóstico. Uma metanálise recente, com 14.400 indivíduos, mostrou que a participação em programa de exercício físico reduziu a mortalidade cardiovascular e a necessidade de hospitalização, além de melhorar a qualidade de vida.

A evidência científica é de tal modo consistente, pelo que a participação em programas de reabilitação cardíaca, ancorados em exercício físico, para doentes após EAM ou revascularização, é hoje uma recomendação com nível de evidência IA (máximo) entre as principais sociedades médicas e científicas da especialidade – American Heart Association, European Society of Cardiology, European Association for Cardiovascular Prevention & Rehabilitation, entre outras.

Também os mecanismos biológicos responsáveis pela proteção induzida pelo exercício contras as doenças cardiovasculares têm sido amplamente investigados. Em artigo publicado em 2009 no Circulation – AHA Journals, Mora et al sugerem que 59% da redução do risco cardiovascular de indivíduos com elevados níveis de atividade física é explicada pela melhoria dos fatores de risco, incluindo-se perfil lipídico, biomarcadores inflamatórios e hemostáticos, pressão arterial, redução da massa gorda corporal e da glicemia. Outros mecanismos como a maior biodisponibilidade de óxido nítrico e mudanças qualitativas e funcionais das lipoproteínas são descritos na literatura como fatores cardioprotetores relacionados ao exercício físico regular.

Em última análise, a evidência científica é categórica: o exercício físico confere proteção cardiovascular, sendo justo reconhecer o condicionamento físico como parte integrante indispensável de programas de prevenção da DAC e reabilitação pós enfarte e/ou revascularização coronária.

*MET (Equivalentes metabólicos) – Um MET reflete a taxa de energia gasta durante uma atividade.